Um passante desatento que pousa um olhar numa passante desatenta.
Ele passa a prestar atenção. Antes de seu cérebro assimilar a divina presença que deixa seus nervos em frangalhos, seu coração já está em disparada. Falta-lhe o ar.
Ao
mesmo tempo que ele quer que ela o olhe e vá cumprimentá-lo, ele quer
passar despercebido, pois não quer fazer papel de bobo, já que toda vez
que a encontra, suas mãos suam, seu estômago se revira, a voz falha e
quando consegue falar, gagueja.
Tarde demais. Ela o vê e prontamente vai falar com ele. Apático como se tivesse visto um
fantasma, ela nem nota que o motivo de sua palidez é sua mera presença.
Entusiasmada
ela lhe conta sobre sua vida. Ele viaja por suas palavras, pelo
movimento de seus lábios e imagina como seria beijá-los. É despertado
de seu devaneio por uma pergunta que ela insiste em repetir e exige uma
resposta. "Você vai?", ela pergunta esperançosa.
Sem pensar ele
responde "é claro", pois não lhe importa a pergunta. Se ela lhe
pedisse para descer ao inferno, ele iria sem hesitar. Mas perto do que
ela acabara de lhe pedir, o inferno seria um parque de diversão.
Ele
dissera sim. Tentou manter o rosto impassível e um sorriso
inexpressível enquanto a tristeza lhe corroia por dentro. Já estava
treinando a expressão que ele faria toda vez que a encontrasse a partir
de então.
Já estava cheio de se sentir vazio. Ele odiava amá-la tanto. Paradoxo.
Sentir
como se tivesse levado mil facadas no peito ou como se tivesse sido
esmagado por uma manada... Não haveria metáfora que explicasse como ele
estava se sentindo.
"Estou tão feliz por você, espero que sejam
muito felizes". Ela estava tão alheia a tudo que se passava na cabeça
dele que ficou feliz com o comentário irônico que ele acabara de
proferir.
Era uma vez a história de amor que ele tanto imaginara e que nunca aconteceu.
Era uma vez algo que poderia ter sido e não foi.
Era
uma vez um rapaz que era alheio a tudo e a todos que nunca percebeu o
quanto ela gostava dele e que acabou nunca tentando por medo da
rejeição.
Era uma vez um rapaz que era tão distraído, que perdera a felicidade que ele não sabia ter nas mãos.
Era uma vez um passante desatento.
Mari
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